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É admitir uma doença crónica

Um, dois, três, respiro fundo. Por uns instantes não sinto nada. Não sinto as mãos, os pés, a cabeça e o resto do corpo, não sinto o coração bater nem os pulmões a expandir. Não me sinto. E, infantilmente, como fazia há três anos atrás, faço figas com as dedos, fecho os olhos com força e peço um desejo. Desejo sentir-me como agora para sempre. Assim que acabo as palavras sinto tudo outra vez. O corpo contrai-se, o ar bate nas paredes do peito, sinto as unhas nas palmas das mãos e deixo de pensar. Enrosco-me mais um bocadinho na cama, tento ficar o mais pequenina possível, para que o universo não dê por mim. A dor. Constante. Alternada. Destrói-nos os sonhos, as expectativas, a boa vontade. Ficamos virados para dentro, não existe mais nada para além de nós. Ninguém diz o nosso nome, ninguém espera por nós na sala, a família que estava na sala desapareceu. Somos só nós e o nosso corpo. Numa batalha injusta e impiedosa. 
Olá crise, vieste passar o fim-de-semana a casa depois de três anos fora?
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